domingo, 21 de junho de 2020

Cego nas Nuncias da Vida


Em minha juventude corrompi minha alma em favor dos impios
Com olhos vidrados em uma missão profana
Liderada por ódio e preconceito
Que queimava em uma pira do fogo da insanidade

Punhos cerrados... olhos sem medo....
Querendo absorver a humanidade e a esperança dos inocentes
Como um parasita sorve sangue de sua vítima
Sentia um poder indescritível, pois olhar para a vítima em seus olhos suplicando por clemência
Era um combustível que ardia forte e deixava um rastro.... o rastro da impureza
Do mal vencendo o bem....
E cada vez mais queria queimar esse combustível extasiado....

Mas cada vez que corria nessa trilha escura ....
Mais me perdia.... e mais deixava de ser humano....

No final de uma noite qualquer dessas conflagrações insanas
Um anjo, na forma de um velho surrado pela vida e pelo tempo....
Ergue suas brutas mãos, lavando minhas mãos embebidas em sangue inocente
Com suas lágimas de tristeza....
Porque deus não o tinha feito para deformar o paraíso
Mas sim para moldado através de amor e ternura
Compreensão e paciência 
Nos barcos das eras sem fim

Batizado com as lágimas de um velho anjo....
Meus olhos cegos pela insanidade foram lavados de anos de brutalidade sem fim
Voltando a enxergar ... e chorar ..... como não houvesse amanhã
Punindo-se .... pela desgraçadas atitudes tomadas

Mesmo vivendo em luta antes....
Continuo vivendo lutando....
Mas agora diante da luz, e não escondido nas sombras
Faço o bem para ser a minha penitência destas noites perdidas....

Anos se passam
A dor nunca passa
A vergonha nunca apaga
E a penitência continua

Em uma noite de revelação
Aparece um lindo anjo
Revelado nas brumas do encanto
Sorrindo como não houvesse amanhã
Me oferecendo piedade e carinho na forma de doces olhos
Mas vigilantes e vivos como pedras obsidianas...

Peguei me respirando mais forte....
Com uma dor lasciva no peito....
Me sinto confuso.... eufórico.... esperançoso
Não sei o que é esse sentimento
Porque na luta o que importa são os punhos e a vontade....

Respiro fundo....
E aqueles olhos me fitam .....
Com a profundidade das fossas marianas ....
Me engolindo....
E me fazendo entender o que é aquilo....
Um novo tipo de fogo....
Um fogo que queima... e o aconchego chega....
Aquece mas não queima
Como queimava minha pele rubra por sangue

Aquilo era amor....

Mas como ?
Eu ... um ser tão impuro
Tão imperfeito...
Sem deus no coração ....
Podia ser contemplado com esse amor ....
Puro ... simples... verdadeiro..... eterno....

Agarrei-me nele como todas as minhas lutas tivessem acabado
Sem precisar mais dos meus punhos em prantos
E finalmente vivi

Viver a mercê desse anjo
Para trazer-lhe felicidade e plenitude
Para todo o sempre....

Vivendo....
Trocando nossas almas....
Entrando em sintonia e deixando todo esse mundo cinza de lado
E nos agarrando somente no amor que temos um pelo outro
O mundo pode estar acabando .... mas nada para pelo nosso amor

Sólido....as intempéries da vida
Moldável a nossa vontade de amar um ao outro
Sem preconceitos e prejuízos

Vivemos....
Em baixo de uma grande arvore.....
Em uma relva de cheiros doces como baunilha
Feliz.... pleno em ser pleno com um sorriso

Mas o tempo resguarda as nuncias da vida
O tempo passa e corrompe ....
Mas na verdade quem se corrompe
Somos nós.....

Me perdi....
No meio de tanto amor....
Pois eu queimei meu corpo e minha alma por ele
E me ceguei outra vez

Amei.... Desejei.... Criei laços
Vivi.... Atravessei altos picos.... para que a felicidade de meu anjo fosse alcançada
Mas esqueci dos teus olhos....

Perdi o compasso de vida....
Perdi as mão dadas andando junto....
Aquelas pequenas e níveas mãos....
Que abraçava as minhas .... brutas e robustas....
Sempre leve e delicada.....

Perdi....
Perdi amando....
Perdi desejando....
Perdi....tudo....

Olhando para o espelho....
Tivemos tantos belos momentos....
Uma verdadeira família
Mas acho que meu maior defeito... se ser sempre cego
Não vi suas lagrimas de desespero...
De solidão....
Mea Culpa....

Agora com nosso castelo desfeito....
Nada faz sentido....
Nada sinto...nada vejo.... nada quero....

Vejo hoje isso o porquê de sentir amor....
Para sentir o gosto do paraíso
E deus em sua sabedoria distorcida....
Faz me pagar em vida....
Pelas atitudes desagregadas de seus súditos....
Que pagaram com sangue....
E eu pagarei no purgatório com a minha alma.....

Perdão .... é o que peço...
Mas melhor sentir isso do que sentir nada....
Melhor do que voltar a queimar a pira da maledicência e insanidade que me atormentava no passado....

Viva pequeno querubim....
Viva... levante voos mais altos....
Voos que eu sempre quis ter com vc....
Mas deus não quis assim....
Por mais que eu doasse meu coração a você....
Nunca seria suficiente a esse deus...
Nunca mereci esse amor....
Mas aproveito dele como pude ....
Mesmo que minha alma não seja a mesma....
Vivi mesmo que brevemente
Sonhando em ser eterno....
Mas seres infames ....
Como eu merecem estar na trilha sozinhos...
Como penitência
De tantos anos de destruição....

Lindo querubim
Levante suas asas e voe....
Voe... longe de mim...
Para não te carregar para as sombras do ostracismo
Voe... mas nunca se esqueça de quem te ajudou a carregar esse mundo pífio
Amo-te, mas voe para longe ....
E seja feliz no que você julgar correto.